segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Apenas a mim mesmo.



“Me leve para sair esta noite, onde existam músicas e pessoas que sejam jovens e vivas”, isso era o que tinha realmente guardado dentro de mim, talvez essa fosse a verdade de como queria estar nesse carnaval. Mas a quem estou enganando?

É apenas um feriado fútil como outro qualquer, onde mulheres siliconadas botam a baixo a moral das militantes feministas de outras épocas, de homens tolos que se embriagam e usam o álcool como desculpas para cometer seus velhos erros.

Mas, o que quero realmente?Apenas sair de algum modo dessa solidão e talvez, fazer parte dessa grande enganação e provar a mim mesmo que também posso ser como todos...fútil, e estar no meio de todos seria me libertar dessa solidão?Será mesmo isso o que desejo?

“Apenas me leve para sair esta noite”, eu teria dito.  Porque quero ver gente e eu quero ver luzes! Por que meus questionamentos já não fazem mais parte do que quero de verdade! 
Apenas me leve para fazer parte de algo maior e que seja somente meu rosto nesse mundo de mascaras! 

Isso era o que eu tinha travado na garganta, pois em algum lugar dentro de mim diz que também posso fazer parte da luxuria da rua, e que assim, me perdendo pelas avenidas iluminadas de som de batuques e afoxés, irei de algum modo me achar...mas esse seria eu realmente? 

As duvidas sobre o que queremos sempre batem de frente com o que realmente somos, e nesse conflito de chamados fui mais forte, venci a euforia do convite do trio elétrico. 

Atendi o grito que me sufocava e era a mim mesmo a quem pedia por atenção,  me encontrei na paz do meu ser, atendi meu chamando, e pude ver que apenas eu poderia me permitir fazer parte do que eu realmente quisesse, e o que mais queria era estar em paz comigo mesmo.

O depois... A crônica de ontem

A visão ainda é turva e os pés agora cansados, seguem em direção à saída. O sol lá fora, apesar de estar começando a despontar e anunciando mais um domingo de muito calor, cega aqueles que passaram a noite inteira à luz das músicas e fumaça de cigarros.

A subida da Alameda Jaceguai mostra-se muito mais inclinada e o cansaço parece ser ainda maior, a cada passo em direção ao ponto de ônibus. A moça, que pela manhã já não é tão bela, faz par com o rapaz, que não tem mais seu encanto noturno. Seguem em direção ao coletivo, assim como tantos outros que ontem estavam radiantes de sons e bebidas, sorrisos e dança, hoje apenas  sono em seus olhos... nada mais. Reclamando entre si a demora do Parangaba/Mucuripe e da sua lotação, sempre cheio, mesmo de manhã cedo no domingo.

Segue a rua... Há apenas alguns vendedores de lanches, servindo aqueles que tentam matar a ressaca no cachorro quente ou hambúrguer. O cheiro da chapa quente se mistura com a brisa que vem do mar, assim como o lixo, que já foi festa antes, e agora faz parte do carrinho dos garis.
 A rua feita outrora de carros e jovens, num trânsito quase tanto enlouquecedor quanto à batida do DJ, dentro da boate, segue em silêncio pela manhã, também cansada, com a ressaca da noite anterior. Apenas seus moradores teimam em sair cedo, para a saudável caminhada ou à santa missa.

A avenida Monsenhor Tabosa, que também faz parte deste contexto, se mostra agora tímida, sem sua movimentação de carros e vendedores, seus clientes em busca da melhor oferta, seus flanelinhas atrás de alguns trocados, todos agora distantes da agitação semanal.

O barulho do seminário agora é outro, não mais da reforma que parecia não ter fim, atrapalhando o passeio público e incomodando com poeira de cimento as casas vizinhas e que, quase por um milagre, conseguiu chegar ao fim. Seu barulho agora é outro, algo mais suave, que vem de dentro da igreja, todos os domingos para receber seus fiéis.

Assim. segue a monotonia do domingo na Monsenhor Tabosa, concluindo mais um pós festa, descansando em sua ressaca momentânea, esperando mais agitação semanal.

ENSAIO SOBRE A ALEGRIA

Alegria, aventura, contentamento são estados de espírito esporádicos, acidentais, mas também podem ser conquistas diárias.

A questão é: ser alegre com pequenas ou grandes coisas? E mais: ser feliz para quê?
Um político corrupto, locupletando-se impunemente por roubar o tesouro, encontra-se
mergulhado numa aparente felicidade. Esta Alegria é passageira, material, falsa. Não é uma alegria boa, digamos. "Quem faz o homem feliz não é o dinheiro: é a retidão e a prudência", disse Demócrito, o filósofo.

Alegria é um tema recorrente em todos os lugares. Alegria para mim são momentos não estado de espírito. Estado de espírito é a predisposição natural (ou construída) ao otimismo ou ao pessimismo, essa tendência que arquitetamos com o decorrer da vida, de acreditar que pode dar certo ou não, que tem conserto e cura ou que vai ser nossa perpétua infeliz prisão.

Alegria é conceito. Alegria, para mim, é ter com quem contar. É estar ao lado de quem à gente gosta. É o sentimento de contentação frente à realidade que se vive. Não uma contentação no sentido de resignação, passível dos coitados, para os quais tudo tanto faz, mas sim de satisfação com os limites naturais.
Por exemplo? "Não posso ter um Brad Pitt que eu idealizo, mas eu vivo bem com o meu Fernando." ou "Não tenho condições de morar na cobertura na praia de Iracema, mas eu vivo bem em uma casinha na Maraponga. Eu tenho um lar, sabe o significado disso, não?"

O sentido que eu dou a estar contente é esse, nunca a isenção de sonhos e ambições. Jamais a perspectiva de que não se merece mais do que se tem apenas a consciência da alegria do que já se alcançou. Não apenas a premissa de que o futuro vai ser bom, mas também a vivência de que o presente vale à pena.
Na minha concepção é impossível ser feliz sem estar alegre, mas ainda assim é possível ser alegre ou otimista.

Alegria é se sentir realizado nas escolhas que a gente faz, seja para as curvas da nossa história, para os caminhos que tomam nossa vida, na escolha da profissão ou na escolha cega do parceiro de caminhada. É encontrar respostas que aliviam o coração. Alegria é receber aquele telefonema inesperado de quem se preocupa conosco. Ou aquele elogio que remexe a auto-estima. Alegria é ter saúde, é trabalhar naquilo que deseja, é ser você mesmo!

Minha proposta aqui é mostrar que existe algo mais além, porque existem épocas de alegria. Sabe todo aquele lance de sofrimento que gera sofrimento? Com a alegria acontece a mesma coisa. Um momento bom se transforma em meia dúzia, que vira um dia e por pouco, semanas, meses, anos... Ter alegria é ouvir Chico Buarque, cantar que “E você sumiu no mundo sem me avisar, agora era um louca a perguntar o que que a vida vai fazer de mim...” e mesmo na tristeza da música, sacar que alguém em sã consciência teve a sabedoria de escrever uma canção de amor triste, porém alegre para suas filhas. Entende?

O trabalho do compositor, do jornalista, do escritor, é feito disso: de alegres momentos que se tornam inspiração para a vida. A alegria que cito aqui é iluminação. Ultrapassa o visível. Isso é alegria pura, minha gente!

Sabe, sou alegre, algumas vezes, mas tenho um pé atrás com a felicidade, pois exigi mais força, dedicação uma constante procura que muitas vezes não nos leva a lugar algum. Não desenrola.  Procurar a felicidade não deveria ser o norte das pessoas, mas o caminho (composto alegremente de situação corriqueiras). Por isso aproveito quando estou assim “em graça”, para rir mais, desejar bom dia a todos, saber que o pior por este momento cessou em minha vida.

A Alegria autêntica estaria na mente que aprecia também a solução dos problemas cotidianos, os pequenos e os grandes, afinal viver é estar constantemente solucionando ou tentando solucionar problemas, já que até nas horas de entretenimento surgem alguns desafios. Somos felizes quando superamos limites e vencemos obstáculos, certamente.

Mas até que ponto a alegria é útil? Por exemplo, um sujeito infeliz como o escritor norte-americano Edgar Allan Poe deixou-nos tesouros preciosos na Literatura, mas e se ele tivesse sido feliz, criaria suas jóias literárias? Enquanto isso BBBs e os atores globais desfilam alegres e sorridentes apregoando na tevê uma felicidade inútil, fútil, patética, medíocre e, sob certos aspectos, hipócrita.
Devemos lutar por tudo aquilo que possa manter este estado de consciência por mais  tempo. Aquisições são importantes, desde que estejam alinhadas com o cumprimento do nosso propósito.

Vale ressaltar que tudo o que é externo a nós não pode afetar nosso bem-estar, deve chegar apenas para agregar, mas jamais nos afastar dele caso percamos estes bens. A vida deve se tornar um eterno aprendizado e uma auto-superação constante na busca de uma felicidade mais duradoura.

A alegria faz parte de tudo isso em suma...
Alegria não se explica. Se aproveita!